"Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino."
Laura Gutman, terapeuta argentina

Relato do parto do Miguel

Em 20.04.2009, às 10h50 nasce Miguel, em casa, cercado de amor...

Os dias que antecederam o nascimento de Miguel foram de muita ansiedade. Depois de passado um verão maravilhoso e energizante na Ecovila Arca Verde em São José dos Ausentes - onde vivia na época - estávamos eu e meu companheiro Leandro em Porto Alegre, esperando a chegada do pequeno desde minhas 36 semanas de gestação. Decidimos recebê-lo na casa da minha sogra, Yara, que nos acolheu de coração aberto bem como a idéia de um parto domiciliar com possibilidade de um plano B se necessário, que ficaria difícil em nossa casa rural e distante.
41 semanas e 6 dias!
Porém, a data (im)provável já havia ficado pra trás, a virada da lua cheia (quando dançamos em Círculo de mulheres com as meninas do Yoga pra gestantes e outras convidadas inclusive minha doce parteira Zeza, foi tão lindo!), o feriado da Páscoa e as 41 semanas completas...Ainda assim estava me sentindo ótima, apesar das noites mal dormidas, acreditando que todo dia podia ser “o dia” para o qual estávamos tão preparados, sempre esperando os primeiros sinais.
Então, naquela noite recebi a visita de meus pais que vivem em Caxias do Sul – era meio de feriadão - para um jantar divertido em família, no qual rimos e curtimos juntos os movimentos escandalosos do Miguel na barriga. Quando fui dormir, depois de conferir se o dorso estava à esquerda ou direita como fazia sempre (e sabe que nem me lembro pra que lado estava?), comecei a fazer planos pro dia seguinte: caminhar, fazer yoga...e de repente, caiu a ficha! Não vou fazer nada disso amanhã, vou receber meu filho! À meia noite e meia, quando levantei pra fazer xixi – como fazia várias vezes por noite – percebo que estava perdendo muito líquido. Acordei o Leandro, excitada, pra contar que a bolsa tinha rompido! – Mas tenta dormir mais um pouco, disse pra ele, porque a noite vai ser longa. Que nada, ele também não dormiu mais, ouvindo meus passos, do quarto pro banheiro, pra salinha e jardim, caminhando, escrevendo poesia, contando os intervalos entre as contrações (nas quais perdia muita água), fazendo exercícios na bola, enfim, o tempo voou. Eram umas 3 e meia, ligamos pra Zeza, que viria nos atender em casa com o Ricardo (meu obstetra) e a Fabi (minha querida doula). Contamos o caso – intervalos de 5 minutos entre as contrações e aproximando, perta de líquido com sangue (na hora me explicaram que era um sinal da dilatação) mas não pedimos pra eles virem ainda pois sabíamos que ainda havia um processo pela frente. – Quando a coisa apertar, me liga que estaremos prontos, disse a Zeza, e eu e o Le começamos a preparar tudo.  
Concentração e amor: o que mas me ajudou
no ritual do parto



Ele montou a banheira, acendeu as velas e espalhou flores por todo lado enquanto eu tirava do armário mais toalhas, forrava a cama e procurava posições confortáveis para as contrações, cada vez mais intensas e próximas. Ali pelas 6 horas, pedi pro Le ligar de novo pra equipe e fui tomar uma chuveirada quente anestésica, sentada em um balde. Que beleza! Começava a clarear quando chegaram Ricardo e Zeza, bem agasalhados – apesar do calor da época, a noite tinha sido bem fria mesmo.Zeza já veio direto respirar comigo e e sugerir posições. Me deu um fôlego novo e uma nova forma de encarar as contrações (que já vinham “coladinhas” nas palavras da Zeza). O Le resolveu também tomar um banho pra entrar limpinho na banheira e tomou um tremendo susto. Saiu do chuveiro recolhendo as roupas quando ouviu um grito e um chorinho de nenê, pensando que tinha perdido o principal e encontrou o Dr. Ricardo no computador, editando um vídeo de parto de uma outra paciente...Tomei mais uma chuveirada na cadeirinha de parto e gostando de sentar também no vaso sanitário durante as contrações. Perguntei da Fabi e o le foi chamá-la, então resolvemos fazer o primeiro e único exame de toque (que foi bem desagradável, na pior posição pra se ficar durante a contração: deitada de barriga pra cima). A Zeza chamou o Ricardo pra conferir, dizendo que contava com a experiência de mais de mil partos que ele tinha. Tocou e olhou pra gente: - Vai nascer, a dilatação tá completa. E o Le: - Em quanto tempo? –Talvez duas horas, ele disse, talvez quinze minutos. E fomos colocar mais água quente pra poder entrar na banheira. Era um dia lindo de sol.
Nesse momento, eu já não saía do vaso e a sensação de puxo começou a ficar mais forte que a dor. A fabi chegou quando já estávamos na banheira. A água é demais, conseguia relaxar profundamente entre as contrações. Foi um período expulsivo bem longo, durou quase três horas. O le conta que deu uma olhada, viu que estava tudo muito esticado e ainda tinha muita cabeça de Miguel pra sair. A Zeza explicou que demora mesmo, um processo lento pra preservar nosso corpo e não rasgar mais do que necessário. Eu ficava sentada na cadeira de parto dentro da banheira e nos intervalos, caminhava, agachava de cócoras, e mergulhava na água. Chegou um momento em que ela disse: - Mais uma ou duas ele vai nascer. O que vamos fazer agora? E eu e Leandro paramos tudo: - Como assim? – Por que o pai não vai segurar o nenê? Lembramos que o Leandro tinha pedido pra amparar o filho quando nascesse e neste momento ele estava segurando meus braços. A Fabi prontamente tirou os sapatos, arregaçou as calças e entrou na banheira pra tomar o lugar dele.
Então a cabeça saiu completa (tinha uma volta no cordão bem folgada) e a contração passou. A Zeza fez umas cócegas na barriga pra estimular e na próxima contração o pequeno Miguel saiu completo para seu primeiro mergulho fora do útero! Que emoção ter aquele bebezinho branquinho nos braços! Ele estava como que descansando sem se mexer e então puxou o ar em sua primeira respirada e abriu os olhos pro mundo. Benvindo, amado filho!
Miguel nasceu sem chorar! Olhou nos meus olhos e nos re-conhecemos!
Com ajuda fomos pra cama e a placenta nasceu em seguida, depois foi a vez do papai cortar o cordão, uma meia hora depois. Conversávamos animados (a adrenalina ainda fazia efeito) e a Zeza ensinou a pega certinha pra primeira mamadinha do Mig. Que gostoso, nunca esquecerei a sensação maravilhosa!

3,9 Kg e 54 cm: bebezão!
Mudou minha vida! Hoje sou mãe, blogueira, doula, atuante no movimento e divulgadora da idéia: Mulheres do mundo, vocês podem parir em liberdade, cercadas de amor e paz! Por voc~es mesmas, por seus filhos, pelo mundo melhor que queremos pra eles! Ahá