"Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino."
Laura Gutman, terapeuta argentina

terça-feira, 14 de junho de 2011

A arte e a magia de contar histórias

Assim como a querida Clarissa Pinkola Estés, autora do clássico de Mulheres que Correm com os Lobos, sou uma cantadora y cuentista, uma “contadora de histórias” da velha escola, descobri que é também assim que ‘aprendo o que ensino’. Antes de fazer reportagem, prefiro crear (palavra antiga que conjugava ao mesmo tempo os verbos “crer e “criar”) ouvindo e contando, com emoções que já não são apenas minhas ou de quem me contou, mas universais.
Me encantam especialmente as histórias de mães guerreiras, das minhas amigas que corajosamente enfrentaram seus medos, as faltas de apoio, as inseguranças pessoais e a pressão social e foram até onde puderam e muito além, inundadas de coragem, para gerar, parir e criar seus filhos da sua melhor maneira. Por isso, quando a colega Rachel me passou o livro Parto com Amor, do casal de pais humanizados e jornalistas Luciana Benatti e Marcelo Min, respondi:”Esse é o livro que eu gostaria de escrever!” E quem sabe? Ainda existem tantas histórias sobre partos com amor a serem contadas...
Parto com Amor: um livro que eu gostaria de escrever
e adorei ler!


Parto com Amor, de Luciana Benatti e Marcelo Min
Editora:Panda Books
Páginas:228




De fato, fiquei bem encantada com a forma simples, informativa e carinhosa com que as histórias foram contadas, na primeira pessoa com a linguagem de nossos relatos de parto (apesar de terem sido redigidas pela autora a partir de entrevistas)  e com fotos lindas, realmente.As informações seguem uma linha obstétrca e podem ligeiramente divergir  de outras que escuto em meus círculos sobre o assunto, mas penso que não diminui o valor do livro no sentido de inspirar e abrir janelas para fora do senso comum. 
Uma das mais belas imagens do livro pra mim: o sorriso divino e
as lágrimas!
Outra coisa bacana foi o livro ter aberto com a história do primeiro parto dos “pais” do livro. Depois segue uma trajetória cronológica de vários nascimentos, onde se repetem personagens e lugares, e aparecem desafios e lições sempre inéditas – afinal, cada mulher é uma e cada filho também. Por fim, o epílogo conta a chegada do  segundo filho, dos mesmos pais já tão transformados. Encontrei aqui uma passagem particularmente emocionante. No meio do trabalho de parto domiciliar, a criança da casa acorda e acompanha a chegada do irmãozinho. Os olhos de mãe filho se encontram e a esta mulher guerreira tem o cuidado de dar uma explicação – rápida e simples -  sobre o que estava acontecendo. E diz; “Filho, pro irmãozinho sair da barriga a mamãe vai ter que dar uns gritos de leão!”. Iniciando a cria nos ciclos tão naturais da vida-morte-vida, intensos e sagrados, como deveriam sempre ser.
Falar em contar histórias também me lembra de recomendar outro bom livro sobre o assunto, de um contador inteligente e divertido com quem tive o prazer de encontrar-me há poucos dias. O homem de vidro Ricardo Jones  e suas memórias me fizeram entender melhor os médicos e também o universo masculino com temas de sua vida pessoal e profissional. Histórias que conduzem quem se permite ao riso e as lágrimas em meio a informações sérias.

  


Memórias do Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra Humanista, de Ricardo Herbert JonesEditora: Idéias a Granel, Páginas:284

Que possamos recontar, contar novas, inspirar que se façam mais e mudar aos poucos a cultura das histórias de nascimentos. Para que o arquétipo da mulher selvagem que sabe parir continue vivo em cada uma de nós e em nossas descendentes.