"Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino."
Laura Gutman, terapeuta argentina

domingo, 13 de maio de 2012

passagens

Passe por uma experiência forte, dolorosa e bela ao mesmo tempo (e  que há de estranho nisso?) nos últimos meses. Acompanhei de perto o processo de passagem ao mundo espiritual de minha Dinda - para quem éramos os filhos que não teve e de quem recebi o mais terno amor incondicional desde antes do que posso lembrar. As transformações cíclicas dentro da constelação familiar fazem rever nossos caminhos pessoais e estar de corpo e alma em um momento destes leva a soltar as amarras de certos conceitos e certezas que definitivamente pertencem a impermanência como todo o resto.
Me senti em paz neste rito, uma passagem "humanizada", porque a morte é isso, um novo nascimento. Tivemos a oportunidade de ficar com ela o tempo todo - também as primas, os amigos de sempre - desde que a doença cresceu dentro dela, em um final sem intervenções desnecessárias (apenas aquelas que aliviavam o sofrimento suavemente), com carinho, presença e orações. No último momento,  a  Dinda estava a sós com as duas irmãs que lhe restavam e minha Mãe teve a certeza que entregou a mão dela, que segurava delicadamente, para a mão de minha Avó, outra forte mulher que partiu serenamente há alguns anos.

Como a Lua é a vida, com seus ciclos de eterna renovação 

Ontem, na véspera do dia das Mães, quando novamente me reúno com o meu poderoso Clã familiar feminino - entrelaçados os mesmos braços longos para os adeuses que embalam os bebês e amparam a velhice . Um clã que carrega em si (no nariz, na personalidade, em sua próprias vidas e escolhas) a marcante presença de todas que já se foram. Então, me chegou um texto do filósofo Gilmar Marcílio, como sempre delicado e profundo, no qual falava da perda de sua própria mãe, e que me deu um presente de lágrimas nesta frase:

"A lembrança pode ser uma bênção, mas pode ser também um tormento. Todas as palavras se transformam numa só: saudade. Depois de sua morte, o cenário que habito ficou triste, tão triste... Porém, hoje sei que o pó não volta a ser somente pó. Onde houve vida e amor persiste uma janela de luz. Quero atravessá-la lentamente em busca de um novo encontro." Gilmar Marcílio

Como não voltar a escrever tocando este tema? e os ciclos da vida-morte-vida seguem se renovando, a cada minuto...