"Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino."
Laura Gutman, terapeuta argentina

sábado, 12 de março de 2011

Mulher, mãe: sacerdotisa dos dias

Longe da folia televisiva, meu carnaval foi de muito trabalho prazeroso e enriquecedor, nem por isso menos cansativo. Entramos o dia da mulher cantando pra deusa do Arco-Íris: "Vás onde queiras ir/ Faz o que queres tu/ Te guia o coração" em uma roda diversa de mãos e vozes pequenas e grandes, marculinas e femininas. Depois do descando das cinzas, sonhos reveladores e a avaliação em grupo do trabalho trouxe a tona mais uma vez a questão: como viver em totalidade e equilíbrio expressando ao mesmo tempo a eficiência e o cuidado, trabalhando e sendo mãe? De volta ao ar, vi que esta conversa também ressoava em meu grupo virtual de mães trazendo histórias tocantes e propósitos altruístas. Escrevi então meu próprio relato, que compartilho:

A maternidade muda nossa vida. Em Recife conheci uma dentista que estava abrindo uma loja virtual para o bebê ecológico.Li uma matéria uma vez em uma revista sobre um casal de empresários que abriu uma fábrica de papinhas orgânicas. Eu mesma, de jornalista e militante socio-ambiental (entre outros rótulos), hoje me vejo mais como focalizadora de grupos - entre eles do Sagrado Feminino, doula e tecelã das redes de mulheres e mães. Lentamente (as vezes mais do que gostaria), contando histórias, construindo juntas os laços de apoio mútuo e espaços para sentir-nos bem, inteiras, com nossos pequenos no peito e ainda assim compartilhando nossa totalidade: as luzes e as sombras. Ainda é um delicioso mistério pra mim a dimensão de todo este processo de auto-conhecimento que envolve viver a meternidade, pois muitas caixas secretas se abrem em nosso interior e um oceano caudaloso de medos e deleites emerge de nossas profundezas. Às vezes dá vontade de fugir de tudo isso e voltar logo a ser o que éramos antes, FILHAS NO COLO DE SUAS PRÓPRIAS MÃES, esse impulso também faz parte. Mas não tem volta. Para alguma coisa nascer, outras coisas morrem, essa natureza da vida-morte-vida chega rachando na gravidez, no parto e nos primeiros tempos com o bebê.
Hoje com Miguel quase completando dois anos percebo em susto minha essência criativa voltando pra mim, gerando novos projetos e sonhos - eternamente grávida (e sonhando repetidamente - e simbolicamente - que estou grávida de novo!), minhas próprias necessidades gritando pelo seu espaço. Sinto-me iniciada em vários aspectos e em outros apenas nos primeiros passos, mas cheia de coragem por ter já atravessado tão profundo rito de onde os louros são os vínculos necessários e profundos.

As mulheres não deixam de 'trabalhar' (ou dedicar-se integralmente ao trabalho) para serem mães - o que é quase compulsório nos primeiros meses/anos de amamentação e fusão emocional. Ao contrário, elas se entregam a outro ofício sagrado - sacrificando, com consciência ou não, alguns aspectos de si mesmas. Trata-se de um trabalho em imersão, com ritmo constante dia e noite, e plenamente espiritual. Pouco a pouco o bebê vao construindo a própria personalidade feita das referências que experimentou enquanto chegava pelas nossas mãos a este mundo confuso, mas fundamentalmente bom. É hora de meditar: o que em mim não cala? Que sinal de fumaça estou enviando pro Universo - e qual a intenção que realmente quero manifestar? Quais são minhas perguntas-chave? O que alimenta a minha alma? Este caminho (trabalho, filho, doutorado, ir pra Índia, outros filhos, blog, tocar tambor, reforma na casa, aprender alemão, banho nu de cachoeira, parcerias, festa de aniversário...) tem coração? Então é o único caminho a seguir.

6 comentários:

  1. Isso mesmo, Bruna!
    Seguir o caminho do coração...
    Esta é uma das maiores (apesar de tão simples) lições que a maternidade me trouxe!
    Obrigada pela reflexão! =)
    Beijinhos!

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  2. Parabens pelo excelente trabalho!!! Tambem sou uma eterna incentivadora do parto natural!!! Conheça o meu blog tbm...
    www.ciclovittal.com
    beijoss

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  3. Oi Bruna!
    Obrigada pelo presente e pela lembrança...
    Adorei ler teu cartão!
    Beijos pra ti e pro Miguel! =)

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  4. Brunette! Ficaria horas te ouvindo...nesse caso lendo!Adoro a maneira como coloca as palavras.Esse espírito de doação só cresce quando aprendemos com nossos pequenos os ciclos, e vemos o tempo passar.Bjos!

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  5. que eterna curandeira tu és Bruna, e desperta também isso naqueles que compartem da tua doçura. Se jogar nas coisas que valham a pena, não há mais tempo para o supérfluo, há uma necessidade de verdade profunda e palpitante, sinto a maternidade assim também.. bjos!

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  6. linda! vc faz parte do clã de mulheres-mulheres/mães intensas e admiráveis que vivem em meu coração! amor amor

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