"Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino."
Laura Gutman, terapeuta argentina

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O encontro com a sombra

Estou certa de que estamos no mundo para aprender e poucas coisas nos ensinam mais do que aquilo que escondemos, temos medo ou não aceitamos em nós mesmos e relegamos à sombra. Para a terapeuta argentina Laura Gutman a maternidade é uma excelente oportunidade de trazermos a luz e abraçarmos este aspecto através da fusão emocional com nossos bebês (que se tornam nossos espelhos).
A maternidade e o encontro com a própria sombra (que encontrei na livraria Cultura em Recife, recém-lançado!) tem me trazido muitos insights sobre minha própria experiência de maternagem e tantas que acompanhei. Passei os olhos por este livro e outros da autora em espanhol ainda na gravidez e comecei a estudar, refletir e buscar informações sobre este tema. Mesmo com histórias tão diferentes, absolutamente TODAS minhas amigas mães (e eu mesma) relataram ter passado (ou estarem passando) por “altos processos” emocionais nos dois primeiros anos com o bebê.  Pra que isso nos acontece?  Pra mim, tinha que ver com o deixar morrer a pessoa que fomos para que nasça uma nova mulher. Mas que ritos de passagem precisamos enfrentar para “parir” essa transformação?

“Transformar-se em mãe-bebê e atravessar o puerpério em um estado de consciência de outra ordem. É preciso que as mães enlouqueçam um pouco, e para isso elas precisam do apoio daqueles que as amam, que lhes permitam abandonar sem risco o mundo racional, as decisões lógicas, as idéias, a atividade, os horários, as obrigações. É indispensável submergir nas águas do oceano do recém-nascido, aceitar as sensações oníricas e abandonar o mundo material”.
 E quem de nós não enlouqueceu ,  esqueceu coisas, ficou a flor da pele? Uma amiga psicóloga contou que, após viver toda vida adulta aprendendo a controlar sua emoção especialmente no que se referia a seus pacientes, ganhou sua filha e chorava aos berros na frente de todas as visitas, totalmente incapaz de dominar este impulso. Libertou sua emoção maternando! São muitos os exemplos, no meu grupo virtual de mães (que aliás, me ajudou demais neste período) pude constatar o quanto é natural sentir-se assim.
Parto empoderado
O parto é a “erupção de um vulcão” interno, um rompimento espiritual. Aí mais um motivo crucial pelo temos que retomar nosso poder nesta hora. Assim, vivenciando o parto (celebração máxima do encontro com nossa sombra)  como um “acontecimento íntimo, sexual, amoroso, pessoal, único e mágico“ estaremos fortalecidas para começar lentamente a juntar nossos pedaços e reconstruir-nos. Lembrando que um vulcão nunca é o mesmo depois de uma abertura como essa.
Lactação
Primeiro desafio para mulher puérpera, desligada de suas referências anteriores (trabalho, amigos, estudos, lugares, sono, diversão) e em franca fusão emocional com seu bebê,  a amamentação é um resgate da nossa mulher selvagem. “Dar de mamar é se despojar das mentiras que nos contamos durante toda vida sobre quem somos ou deveríamos ser. É estarmos soltas, poderosas, famintas como lobas, leoas, tigresas, cangurus ou gatas”. 
Sexualidade
Após isso, a redescoberta da sexualidade, agora profundamente yin: “sutil, lenta, sensível, feita de carícias e abraços”. A mulher está sempre com seu bebê nos braços, ainda que ele pareça dormindo no berço, e a relação amorosa  dos pais necessariamente inclui a criança. A libido das mães se transfere para os seios, nosso desejo se transforma  bem como nossa forma de fazer amor. É o momento do homem desenvolver junto com a companheira a parte feminina de sua sexualidade. Se todo carinho for tomado como um convite para o sexo, corre-se o risco de criar um abismo entre o casal. 
 
A maternidade e o encontro com  apropria sombra – O resgate do relacionamento entre mães e filhos
Autora: Laura Gutman
 Tradução: Luís Carlos Cabral
Ed. Best Seller, 2010
 
 
E por aí vai: alimentação, problemas de sono e doenças infantis,  controle dos esfíncteres, os papéis familiares, comunicação com o bebê,   momento da separação emocional após os 2 anos... enfim, os temas de nosso cotidiano através de um outro olhar. Um olhar que valoriza introspecção, auto-questionamento em busca de nossa verdade pessoal, enfrentamento dos traumas e segredos e crescimento espiritual. Este conhecimento me trouxe mais força na convicção de trabalhar com as mães recentes, as tais “puérperas”, e ajudá-las  a entregar-se para atravessar este período, apoiadas umas pelas outras. Por nós, por nossos filhos e pelo mundo!

3 comentários:

  1. Olá, Bruna! Aqui é Carol de Recife, do Bicho do Mato! Que lindo seu blog, e muito importante discutir os temas que você traz...parabéns e espero que continue crescendo, já sou seguidora! rsrsrsrs
    um beijo pra você e Miguel!

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  2. Gostei muito da sugestão de leitura! Aguçou minha vontade de conhecer o livro!!!!

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  3. Opa! Adorei a sugestão, Bruna... Vou pedir pro Bruno pegar pra mim na Cultura! Bom, e amei o blog, já estou "seguindo"! Beijos pra ti e pro Migui (assim que eu ouço falar dele através da vó Iara)

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