"Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino."
Laura Gutman, terapeuta argentina

terça-feira, 26 de junho de 2012

Rituais pós-parto – O retorno à Tenda Vermelha

Tetas
Lágrimas
Confissões em voz baixa
Cheiro de mulher e de ervas de cura
Choro de bebê novo, inconstante e estridente
Sono e suor
Canções de lua, de terras prometidas, de anjos....
Sabedoria antiga
Olhos de anciã
Olhos de donzela
Olhos de mãe
Tetas

Lágrimas
Leite
Serviço
Gratidão
Útero fechado, campo fechando
Espaço
Espaço sagrado de mulheres
Jutas em seus rios de celebrar a vida e a transformação
Para que a vida siga....


Tenho oferecido a mulheres puérperas em seus primeiros 40 dias, este belo rtual dd fechamento e renovação, oriundo da tradição mexicana.

Neste trabalho já testemunhei algumas libertações e muito encorajamento. Percebi pulsante a energia  terra-água no corpo-mente-espírito da mãe recém-nascida. Uma luz e ar freco no umbral de d=fusão emocional. A alegria de receber (de quem está só doando alimento e prana note e dia) e celebrar o que passou e não volta e a nova vida tão desafiante quanto fascinante que começou.

Recomendo a ritualística para a mulher, feita por mulheres.  Não precisa ser esta, que aprendi com a parteira Naoli Vinaver e faço á maneira de cada mulher. Pode-se criar um ritual, com respeito por este momento, práticas para saúde pós-parto, carinho e elementos de renovação. Citando as palavras de Camila (a doce e poderosa mãe de Zion, que tive o prazer de acompanhar desde a gravidez e no trabalho de parto): “Este trabalho (o ritual) me deu eixo, deveria  ser oferecido pelo SUS!”

Ritual pós –parto (banho de ervas e suor) – a ser realizado 3 vezes nos primeiros 40 dias (qualquer coisa é melhor que nada, caso não se consiga o ideal). Eu gosto de fazer a primeira vez aos 13 dias.

Você vai precisar:

2 ou 3 mulheres (além do pai do bebê que fica por perto com ele. Geralmente dormem). Pode ser a parteira, doula, amiga...               que já saibam o que precisam fazer.

Uma bacia ou balde grande (a mulher puérpera deve entrar dentro dele para o banho de chá)

O chá (receita abaixo), fervido por 30 min na noite anterior e aquecido na hora (o mais quente que for confortável para mulher.

Um “tenda” feita com cobertores em um ambiente aquecido (uma barraca iglu na sala de casa com cobertores por cima funciona bem, mas é preciso amarrá-la pra não perder a forma)

Óleos de massagem (com aroma e sem para os seios)

Toalhas, lençóis e cobertores

Música ambiente calma e relaxante

 Térmica com outro chá (receita abaixo, para ser tomado durante a prática pela mulher, prevenindo dores de cabeça); Copo com canudo.

Parte I – Massagem

No chão com isolamento, massagem intuitiva completa na mulher. Começa de barriga pra baixo, atenção nos pés mãos, costas (lombar) e pescoço. Gosto de usar Lavanda ou Anis estrelado. Na frente atenção ao útero -sempre massagear de baixo pra cima – e órgãos nteros no abdome (gosto de usar o Ylang-ylang neste momento). Pode-se dizer algumas palavras durante toda massagem com por exemplo: “Honro este útero corajoso que trouxe seu filho a vida! Agora é o momento de retornar”, etc. Nos seios, use vegetal puro, pois o bebê pode querer mamar. Se sair leite, misture-o no óleo e siga massageando vigorosamente. Ps. Este ritual costuma estimular bastante a produção de leite

Parte II – Banho de ervas

A mulher e mais 2 ou 3 acompanhantes entram na tenda. Ela vai para bacia, ou balde as outras derrubam o chá sobre ela, com as ervas e tudo, inclusive nos cabelos, rosto, costas, seios (é bom até abrir um pouco a vagina pro chá penetrar e limpar!). Nesta hora, é lindo cantar, ficar em silêncio, abrir espaço pro choro, riso, sussuros.... Depois bate-se na pele da mulher com os talos de ervas, pra ativar a circulação. Durante o banho, a mulher segue tomando o outro chá, quentinho.

Chá do banho ‘abrasileirado’ (ferver 30 min uma panela grandona)

1 casca de canela

4 ramos de alecrim

2 punhados de camomila

1 punhado de arnica

3 ramos de manjericão

1 raminho de arruda

3 cascas de barbatimão (ou um punhado seco)

Chá pra tomar

Canela, alecrim e camomila com mel na xícara



Parte III – Suor

Depois do banho a mulher sai da tenda envolta em toalhas, lençóis e cobertores. Tapada até a cabeça (inclusive os olhos), deixando só a boca e o nariz pra fora. Ela deita na cama e sua (bebendo o chá no cadinho) por uma meia hora. Pode dormir também. Neste tempo se der pro bebê agüentar sem mamar é bom não interromper. Quando a mulher sai desta etapa é como renascer ou re-parir.Lindo demais!

Parte IV -  Fechamento

Em duas pessoas, usando o rebozo, apertam-se os pontos energéticos da mulher: cabeça, ombros, costelas, quadril, coxas, batata da perna, pés. Interessante fazer quando você á experimentou. Uma variação é enrolar a mulher com vários panos no chão, bem apertadinha por uns minutos.


sábado, 23 de junho de 2012

Marcha pelo Parto em Casa

O movimento que mobilizou mais de 5 mil mulheres em 22 cidades do Brasil (e outras tantas nas redes sociais) começou para defender um médico, perseguido pelo Conselho de seus pares por ter defendido o parto em casa (como opção para maior parte das mulheres). mas ficou maior que isso, fala de humanização, assistência baseada em evidências científicas, respeito, amor e, entre mais tantas cisas, "protagonismo da mulher".

Turma do fundão da marcha em porto Alegria: só mulheres poderosas comigo!

O que é protagonismo no parto? É a mulher-mãe  (não mulherzinha-mãezinha) fazer seu próprio parto, aonde quiser, com o acompanhamento/ assistência/ companhia de quem preferir. Tomar as rédeas de sua vida nas mãos, procurar as informações nas fontes que confia, se auto-responsabilizar pelos riscos e decisões. 
"Meu parto foi eu que fiz!", dizia um dos cartazes que levamos. Taí uma expressão de nossa cultura que está nas nossas mãos mudar (a exemplo do clássico: foi um parto! para coisas horrorosas e difíceis). Se te perguntarem: "Quem fez seu parto?', responda (se assim foi: "Eu! (e meu filh@)"! 

Nascer Sorrindo caxias representando na Marcha pelo Parto em Casa  do RS


domingo, 13 de maio de 2012

passagens

Passe por uma experiência forte, dolorosa e bela ao mesmo tempo (e  que há de estranho nisso?) nos últimos meses. Acompanhei de perto o processo de passagem ao mundo espiritual de minha Dinda - para quem éramos os filhos que não teve e de quem recebi o mais terno amor incondicional desde antes do que posso lembrar. As transformações cíclicas dentro da constelação familiar fazem rever nossos caminhos pessoais e estar de corpo e alma em um momento destes leva a soltar as amarras de certos conceitos e certezas que definitivamente pertencem a impermanência como todo o resto.
Me senti em paz neste rito, uma passagem "humanizada", porque a morte é isso, um novo nascimento. Tivemos a oportunidade de ficar com ela o tempo todo - também as primas, os amigos de sempre - desde que a doença cresceu dentro dela, em um final sem intervenções desnecessárias (apenas aquelas que aliviavam o sofrimento suavemente), com carinho, presença e orações. No último momento,  a  Dinda estava a sós com as duas irmãs que lhe restavam e minha Mãe teve a certeza que entregou a mão dela, que segurava delicadamente, para a mão de minha Avó, outra forte mulher que partiu serenamente há alguns anos.

Como a Lua é a vida, com seus ciclos de eterna renovação 

Ontem, na véspera do dia das Mães, quando novamente me reúno com o meu poderoso Clã familiar feminino - entrelaçados os mesmos braços longos para os adeuses que embalam os bebês e amparam a velhice . Um clã que carrega em si (no nariz, na personalidade, em sua próprias vidas e escolhas) a marcante presença de todas que já se foram. Então, me chegou um texto do filósofo Gilmar Marcílio, como sempre delicado e profundo, no qual falava da perda de sua própria mãe, e que me deu um presente de lágrimas nesta frase:

"A lembrança pode ser uma bênção, mas pode ser também um tormento. Todas as palavras se transformam numa só: saudade. Depois de sua morte, o cenário que habito ficou triste, tão triste... Porém, hoje sei que o pó não volta a ser somente pó. Onde houve vida e amor persiste uma janela de luz. Quero atravessá-la lentamente em busca de um novo encontro." Gilmar Marcílio

Como não voltar a escrever tocando este tema? e os ciclos da vida-morte-vida seguem se renovando, a cada minuto...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Presentes...

Sou uma doula, mulher e mãe realmente agraciada pela vida!  Mesmo sem saber que dia 18 de dezembro era o Dia da Doula – uma iniciativa pra promover o trabalho destas mulheres pelos partos empoderados e felizes – recebi grandes oportunidades de crescimento deste aspecto tão importante em minha vida nos últimos tempos.
Primeiro acompanhar a chegada da pequena Maywa e todo processo de mais uma família (meio baiana-equatoriana- gaúcha-arcaverdiana) se formando com seus desafios e encantos. Depois, por meio destes “cumpadres”, a oportunidade de conhecer pessoalmente a arteira mexicana Naolí Viinaver – cujo trabalho acompanho há vários anos -  e que agora está morando e dando cursos aqui do lado, em Florrianópolis-SC.

Eu, Naolì e Amanda, outra gaúcha. Bah, que momento!

Naolí é mesmo uma mulher bela, vibrante e sábia como uma autêntica xamã da Lua. E tem o humor encantador de todos mexicanos que conheço. Transmite o conhecimento da forma que mais me inspira: uma ‘cuentista’, contadora de histórias. Histórias que cantam e dançam, histórias que nascem devagar ou como um raio, histórias que dão à luz.
Naolì em ação: ensinamentos de uma autêntica xamã da Lua

E, com ela, 40 mulheres poderosas de vários cantos do Brasil. Parteiras, enfermeiras, terapeutas e sobretudo doulas. As “doulas do Brasil”, compartilhando os sonhos, mais histórias e as tantas pedras no caminho de cada uma . Dispostas a rir como música, a se emocionar até mergulhar nas profundezas de suas próprias lágrimas e então a renascer. (Minha experiência com Renascimento, agora pela segunda vez, vale um relato na próxima oportunidade, basta dizer que já não sou a mesma).

mulheres...
Uma autêntica Imersão no mundo da gravidez, parto e pós-parto, na memória ancestral e de vida de todas as mulheres.  Encontrei algumas irmãs, comadres que com certeza já conhecia e outras que apenas vislumbrei o brilho.  Aprendi algo das dinâmicas de calor e frio pra mulher e o bebê, calorosamente, e carinhosamente  trabalhar a força  no manejo dos rebozos. Encontrei  a beleza de algo que já sabia na pele: É preciso amar a mulher eu está parindo. Se não parece possível, é preciso mudar alguma coisa para que se possa amá-la!
mais mulheres...
Bazar de Mães Dadas e sucesso do rebozo!
E como é preciso praticar o que aprendemos, já saí de Floripa direto pra casa de uma adorável amiga grávida, que se encantou com rebozo e com quem troquei impressões bem ao pé do ouvido: da vida, das vidas...depois foi outra amiga que ganhou, agradecida,  uma atenção de pós-parto, com olhos cheios de mar mesmo no alto da serra...Então, a festa do Nascer Sorrindo Caxias, justo no dia 18, feliz coincidência brindada de arco-íris no dia chuvoso -ensolarado. As grávidas também quiseram experimentar a massagem de rebozo, revirando os olhos (realmente é uma delícia!) e todos juntos  contar-se as novidades, e vê-las vivas na forma de crianças alegres correndo e barrigas crescidas. Trocar assim como tocar sempre é bom, curativo. Incrível a  experiência da troca material  onde os valores são outros (como no caso do 1º Bazar de Mães Dadas), onde o que foi usado por um leva a bênção pra outro, onde o que foi feito pelas mãos de alguém carrega seus encantamentos do bem!

Neste tempo em que se fala de presentes comprados e empacotados eu venho agradecer aos presentes sem medida que ganho da graça da vida. E a alegria de fazer girar a roda do dar e receber!

Lara e sua filha pintadas por Naolì: a roda da vida, nosso maior presente!

domingo, 27 de novembro de 2011

Maywa

Mais um milagre aconteceu em nossa Arca! Compartilho a alegria e estado de graça pela chegada de Maywa (significa Violeta em quíchua), filha do Francesco e da Talita, dia 12//11/2011, às  18h49. Uma escorpianina forte, rosada e saudável!
Gratidão pela egrégora de luz de todos (especial dos participantes do Festival Agroflorestal, evento que acontecia naquele mesmo dia!). Talita foi uma guerreira no longo trabalho de parto, as ondas que vêm e vão,  mulher-selvagem que habita na memória ancestral de cada um, reverenciada como  portadora da vida por todos nós!
Francesco foi um autêntico pai da nova era, uma fortaleza serena cheio de amor e encanto. 
Gratidão ao Universo por permitir um nascimento de tanto amor e luz, que mais e mais seres possam chegar a Terra  em Paz!
 

sábado, 29 de outubro de 2011

carta para Andresssa

 Tive a alegria de reencontrar a Dessa, amiga de varios anos, artista e mulher que sempre admirei - e acomapanhá-la no finalzinho da sua gestação e no nício de sua vida como mãe.
Não cheguei para o parto - que foi bem rapido e muito abençoado em outra cidade- mas no dia seguinte, depois de nos falarmos no telefone entre risos e lágrimas, escrevi estas palavras como um presente que compartilho com todos:



Querida amiga! Esta madrugada, vc fez parte de um milagre e se descobriu forte, corajosa e selvagem  como uma Deusa. Estou imensamente feliz por você! Sinto-me gratificada por poder ter te acompanhado em parte desta jornada e espero que continuemos conectadas nesta nova etapa de nossas vidas em comum! Esta noite acordei em certa altura e pensei muito em você. Senti. Assim como já sentia que seria assim, ‘lindo”, como você descreveu.
Também  quero desejar todas as boas-vindas,  cheias da alegre inocência e naturalidade das crianças com quem estava convivendo nestes dias, ao pequeno Gabriel. Um novo ser humano na Terra, que chega cercado de amor e carrega o potencial do infinito. Ao Rafa, a toda esta família que se constrói  e também se redesenha, curando e criando vínculos que perduram gerações transformam o mundo.  Que vocês encontrem (pois sei que já possuem) toda saúde, tranqüilidade, confiança, coragem, abundância  de leite, bom humor, apoio interno e externo  e paciência que precisarem no delicado e delicioso desafio de se tornarem mãe-filho-pai. (E, em menor escala, mas intensamente,  avós, tios, padrinhos, amigos...).
Viva a força da vida, que é maior que tudo (e como falamos disso nestes dias) – acabo de acender uma vela celebrando-a e pensando em vocês!
Uma aura de amor e luz pro seu ninho, nos vemos em breve. Sigo a sua disposição. Sua sempre doula
Bruna, a tormenta

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Para elas - vocês - mães da minha vida...

Pensando sobre tudo isso... enquanto a música toca e me toca. e a voz de Alice (como me encanta!), canta:

Música: Alzira Espíndola
Letra: Alice Ruiz
Poesia: Alice Ruiz


amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia
por mais que vá sofrer
é o jeito de aprender
e o teu caminho
só você vai percorrer
se você vence, eu venço
se você perde, eu perco
e nada posso fazer
só deixar você viver


enchemos a vida
de filhos
que nos enchem a vida

um me enche de lembranças
que me enchem
de lágrimas

outro me enche de alegrias
que enchem minhas noites
de dias

outro me enche de esperanças
e receios
enquanto me incham
os seios


amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia

por mais que vá sofrer
é o jeito de aprender
e o teu caminho
só você vai percorrer
se você vence, eu venço
se você perde, eu perco
e nada posso fazer
só deixar você viver

só olhar você sofrer
só olhar você aprender
só olhar você crescer
só olhar você amar
só olhar você...


Para elas