"Não se pode maternar sem sustentação. Não se pode maternar sem fusão emocional. Não se pode maternar sem buscar o próprio destino."
Laura Gutman, terapeuta argentina

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Miguel sem fraldas!

Miguel parou de usar fraldas, mais um passo grande de independência (nossa!). Mais uma lição para uma mãe aprendendo a sê-lo.  No verão, ele ficava peladinho e fazia ‘pipi’ na grama ou no pinico mas era só colocar a fralda e adeus sensibilidade. E eu me inquietava, como será no inverno? Teremos que esperar o próximo verão para continuar o processo? E então,  de repente,  ele começou a pedir pra tirar a fralda e ir ao banheiro (não ao penico, claro, mas ao vaso comum e sem adaptador, pois ele quer ser como a gente). Simples assim, sem oferecer a cada meia hora,  sem situações constrangedoras em público, espero que sem traumas para  ele.

Miguel naturista (e sem fraldas) no fim do verão!
 Independência auto-regulada.... 


Então, como falava com minha amiga Nati ontem, a gente perde o sono imaginando como será e as crianças se mostram bastante auto-reguladas, bastando agir com naturalidade e paciência: para começar a dormir na cama, sentar-engatinhar- andar, desmamar – ainda me surpreendo de como foi fácil! Dormir a noite toda (essa etapa desperta compreensivelmente nossa ansiedade de mães...), falar ou tirar as fraldas.      
Também acabou a fase de lavar um caminhão de panos, pois sim, usamos fraldas de algodão reutilizável – e como! – quase exclusivamente.  Ainda não consigo olhar pra trás e dizer que foi super tranqüilo (a memória seletiva deve cuidar disso mais tarde). Deu muito trabalho, gerou conflitos de casal,  mas eu avaliei que foi a escolha que me causava menos sofrimento. Pra mim, comprar, usar na pele sensível do bebê e  colocar fora (opa, fora da onde? Afinal, trabalhamos diariamente o conceito de que a terra toda é nossa casa!) era muitas vezes a mais difícil que o ritual de tirar o cocô- esfregar com sabão de côco- colocar no vinagre e na máquina - estender –dobrar (passar a ferro foi um passo eliminado nos primeiros meses).

Uma das primeiras imagens de nossa "nova rotina" quando Miguel nasceu. Era só o começo!

Respeito e compreendo totalmente as escolhas de cada um, e pra mim acho que fez diferença o fato de que onde moro, no sítio, não passa caminhão de lixo. Temos que administrar TODO resíduo que produzimos.  Então tentamos compostar a parte orgânica das poucas fraldas descartáveis que usamos e tentar reciclar o plástico. Mas não desapareceram de nossa vida, veremos o quanto ainda vão durar...
Enfim, toda fase traz novas rotinas. Não preciso ter mais uma bolsa enorme com todo aparato do nenê! Mas devo estar preparada pra catar uma árvore pra ele ”regar” às vezes no meio da cidade. Ou largar o prato do almoço pra ir limpar – e celebrar – o “bumbum” (como ele chama o cocô)! Faz parte...O fato é que ele mostra todo dia o quanto amadurece... sozinho, como os frutos.

sábado, 6 de agosto de 2011

Maternidade Selvagem

Inspirada pelas queridas "comadres", presenciais e virtuais (aliás o Encontro Nascer Sorrindo de hoje foi lindo, muito especial, obrigada meninas), lanço minha homenagem a Semana Mundial da Amamentação. Recebi este texto em nossa lista Parto Humanizado - RS, na ocasião, senti-me feliz e inspirada e encaminhei para muitas lindas mulheres. Palavras que expressam também a minha gratidão ao universo por ser mulher. Uivemos para lua crescente (e para todas as outras), dozelas, bruxas, grávidas ou com pequenos lobinhos no peito. Em cada ciclo, sempre mulheres!






"Quando seu bebê chorar à noite, guie-se pela penumbra da casa até encontrá-lo e finja que está vivendo numa caverna, em algum clã de uma Era remota. Surpreenda-se por tê-lo deixado longe de seu corpo, exposto ao frio. Não há mamadeiras, nem geladeiras, você não tem fogão. Entenda que o drama da existência de um bebê em sua vida nada tem a ver com chocalhos, bibelôs ou chupetas. Você precisa salvá-lo, defendê-lo de feras e em breve o amarrará em seu corpo para ir à floresta. Só você pode salvá-lo, com seu leite, seu corpo, seu calor. Somente você pode fazer dele uma criatura forte e destemida e isso ocorrerá pela viagem dos hormônios em seu corpo, eles levarão as mensagens por meio do seu leite e de suas atitudes. Parir e amamentar é coisa do eu antropológico em nós.Você só está aqui porque uma linhagem de mulheres e homens um dia, lá atrás, salvaram-se, naturalmente, na luta pela sobrevivência. Todo o resto civilizado é prazer que podemos desfrutar. Não deixe que a beleza da civilização, que todos os ganhos culturais que obtivemos te faça fraca e infeliz por ter uma linda criança nos braços."
 


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Marcela e Samadhi e o parto desassistido

No último dia 28/6, às 13h35 aconteceu um milagre, na Arca Verde, ante aos meus olhos. Mais um novo ser humano deu seu primeiro grito no mundo louco que conhecemos. Mais uma jovem mulher se tornou mãe e nasceu também um pai. E um sol apareceu para trazer alento ao inverno gelado. Os ciclos da vida-morte-vida seguem seu curso,  todos os dias.

Um milagre aconteceu: mais um bebê chegou cheio de luz!
Na Páscoa, quando chegaram Marcela e Miná, muito grávidos e curiosos, eu perguntei a ela quem ia acompanhá-la no parto. “Vamos fazer só nós dois”, ela respondeu com uma tranqüilidade incomum. Após uns dias de convivência, eles manifestaram a idéia de fazer uma experiência comunitária conosco. E decidiram que este era o melhor ninho possível para o bebê nascer.  
As semanas se passaram cheias de conversas e informações.  O pré-natal (no sistema público) mostrava tudo bem, os medos do futuro  puderam expressar-se e dissiparem-se. Mas Marcela, apesar ou talvez justamente por sua tão pouca idade (21 anos!), parecia cada vez mais serena.  Achei que eles estavam certos de que o bebê ia demorar mais do que o previsto, pois não via sequer roupinhas, fraldas ou cueiros, a barriga estava relativamente pequena e a própria Marcela dizia ter nascido com passadas 42 semanas de gestação. Mas não deixei de reparar no divertimento do casal quando limpava e reformava uma velha tina para servir de banheira, ensaiando posições para o parto. Eles agradeceram  e anotaram os contatos de obstetras e parteiras humanizados (apresentei-os inclusive a minha própria equipe de parto domiciliar em um evento do grupo Nascer Sorrindo Caxias). Ainda assim, nas 39 semanas, o casal confirmou a todos que tinha certeza de que o parto seria assim, em casa e sob sua total responsabilidade.  Se eu quisesse, teria prazer em me ter como doula, consciente do papel da acompanhante do parto.  E assim foi, um dia antes de completar 40 semanas. E tudo correu melhor do que eu poderia imaginar.     
Claro que Marcela não foi a primeira mulher que conheci – além de outras histórias que já escutei e li – que aptou pelo parto desassistido (sem médico ou parteira). Uma delas – que já tinha passado dos 40 anos quando teve a primeira filha das duas que pariu sozinha -  dizia para outra amiga grávida na ocasião: “Parto não tem mistério, não, gente. Leia o Parto Ativo (livro de Janet Balaskas) e pronto, não precisa tanta coisa.” Mesmo assim, eu pessoalmente não faria, e não recomendo a todos, especialmente quando não tem a mais absoluta segurança desta opção. Acredito na magia e beleza da atuação da parteira experiente quando conectada com sua missão. É uma transferência do conhecimento antigo das mulheres, da anciã para a jovem que aprende vivenciando e poderá transmitir esta arte àquelas que vierem depois. Um verdadeiro hino de amor à Mulher Selvagem.
 Porém, não deixei de emocionar-me com a conexão de Marcela com seu próprio corpo, ciente de cada etapa do trabalho de parto e nos primeiros momento com o bebê. Me chamou pelas 9 da manhã, após a madrugada de contrações quando recebeu acupuntura e massagem chinesa do companheiro terapeuta. Na banheira por um longo período, ainda falamos com calma sobre a possibilidade de um plano B (o carro estava preparado, bem como o telefone do médico na mão). Deixei claro que estaria ao lado dela de qualquer maneira. Ela apenas sorriu e segurou minha mão. As contrações foram tornando-se mais intensas e me mantive sempre muito segura, como se meu instinto também estivesse aguçado para saber que posição sugerir, onde tocar, o que oferecer. Perto do período expulsivo, ela foi ao banheiro sozinha com o marido, e na volta, preferiu ficar na cama um pouco. Foi quando me disse que estava sentindo abrir e que tinha vontade de empurrar. Começaram aqueles gritos ancestrais – de dor-medo- libertação-poder, tudo junto - que conhecemos tão bem e  apenas por um momento  questionei se realmente eles eram o perfil de casal para este tipo de parto. Respirei fundo e procurei me concentrar no momento presente. Olhei pelo espelho quando ela garantiu que estava sentindo a cabeça descer. E a vi. Chorei de emoção.

Trabalho de parto de Marcela, comigo e o marido Miná:
Samahi chegando mesmo!

Marcela ficou em pé e acocorada aos pés da cama e preparamos as toalhas e fraldinhas.  Le chegou neste momento, com o almoço, e pedi pra ele tomar a câmera. Segurei Marcela  por baixo dos braços e a ergui um pouco (sem pensar muito tecnicamente, mas seguindo meu instinto) para  bebê ter espaço para passar. Foi amparado pelas mãos do pai, ativo e corado e no instante seguinte já dava os primeiros chorinhos no peito da mãe. Quando ele passou, em uma só contração, já pude vislumbrar de relance: “Um menino!” (era surpresa), quando Marcela dizia suas boas-vindas: “Meu bebê!”. Nascido na mesma casa e quase no memso lugar que em novembro de 2009 nascia outro bebê: Davi, filho da Anita e Samuca, outro parto, outro milagre que tive a graça de acompanhar.

A banheira, a tesoura, o almoço e o fogão a lenha:
 parto como antigamente 
Na cama, Marcela aspirou com a boca o líquido do nariz do pequeno Samadhi. Ninguém disse a ela o que fazer, ela simplesmente fez.  Miná cortou o cordão depois de nascida a placenta, com minha tesoura de tricô (presente da amiga alemã Petra), fervida como antigamente. Logo Miguel entrou e deu as boas vindas do reino das crianças, chamando o pequeno pelo nome (na Yoga, Samadhi é o estado de perfeita união com Deus).  A paz reinou o tempo todo na casa pequena e despreparada e ainda nos inebria, passada uma semana. O bebê, que pesou 2,8kg, já parece maior e está mamando cada dia mais, o umbigo já cicatrizou. Pra mim, outro renascimento, como doula, mãe e Mulher (quem sabe um dia aprendiz de parteira).  Acendi uma velinha em Gratidão ao Universo – que afinal, permitiu que tudo corresse bem, pedindo saúde para nova família e  a dádiva de que mais e mais crianças possam vir ao mundo com tanta luz e simplicidade.        

terça-feira, 14 de junho de 2011

A arte e a magia de contar histórias

Assim como a querida Clarissa Pinkola Estés, autora do clássico de Mulheres que Correm com os Lobos, sou uma cantadora y cuentista, uma “contadora de histórias” da velha escola, descobri que é também assim que ‘aprendo o que ensino’. Antes de fazer reportagem, prefiro crear (palavra antiga que conjugava ao mesmo tempo os verbos “crer e “criar”) ouvindo e contando, com emoções que já não são apenas minhas ou de quem me contou, mas universais.
Me encantam especialmente as histórias de mães guerreiras, das minhas amigas que corajosamente enfrentaram seus medos, as faltas de apoio, as inseguranças pessoais e a pressão social e foram até onde puderam e muito além, inundadas de coragem, para gerar, parir e criar seus filhos da sua melhor maneira. Por isso, quando a colega Rachel me passou o livro Parto com Amor, do casal de pais humanizados e jornalistas Luciana Benatti e Marcelo Min, respondi:”Esse é o livro que eu gostaria de escrever!” E quem sabe? Ainda existem tantas histórias sobre partos com amor a serem contadas...
Parto com Amor: um livro que eu gostaria de escrever
e adorei ler!


Parto com Amor, de Luciana Benatti e Marcelo Min
Editora:Panda Books
Páginas:228




De fato, fiquei bem encantada com a forma simples, informativa e carinhosa com que as histórias foram contadas, na primeira pessoa com a linguagem de nossos relatos de parto (apesar de terem sido redigidas pela autora a partir de entrevistas)  e com fotos lindas, realmente.As informações seguem uma linha obstétrca e podem ligeiramente divergir  de outras que escuto em meus círculos sobre o assunto, mas penso que não diminui o valor do livro no sentido de inspirar e abrir janelas para fora do senso comum. 
Uma das mais belas imagens do livro pra mim: o sorriso divino e
as lágrimas!
Outra coisa bacana foi o livro ter aberto com a história do primeiro parto dos “pais” do livro. Depois segue uma trajetória cronológica de vários nascimentos, onde se repetem personagens e lugares, e aparecem desafios e lições sempre inéditas – afinal, cada mulher é uma e cada filho também. Por fim, o epílogo conta a chegada do  segundo filho, dos mesmos pais já tão transformados. Encontrei aqui uma passagem particularmente emocionante. No meio do trabalho de parto domiciliar, a criança da casa acorda e acompanha a chegada do irmãozinho. Os olhos de mãe filho se encontram e a esta mulher guerreira tem o cuidado de dar uma explicação – rápida e simples -  sobre o que estava acontecendo. E diz; “Filho, pro irmãozinho sair da barriga a mamãe vai ter que dar uns gritos de leão!”. Iniciando a cria nos ciclos tão naturais da vida-morte-vida, intensos e sagrados, como deveriam sempre ser.
Falar em contar histórias também me lembra de recomendar outro bom livro sobre o assunto, de um contador inteligente e divertido com quem tive o prazer de encontrar-me há poucos dias. O homem de vidro Ricardo Jones  e suas memórias me fizeram entender melhor os médicos e também o universo masculino com temas de sua vida pessoal e profissional. Histórias que conduzem quem se permite ao riso e as lágrimas em meio a informações sérias.

  


Memórias do Homem de Vidro - Reminiscências de um Obstetra Humanista, de Ricardo Herbert JonesEditora: Idéias a Granel, Páginas:284

Que possamos recontar, contar novas, inspirar que se façam mais e mudar aos poucos a cultura das histórias de nascimentos. Para que o arquétipo da mulher selvagem que sabe parir continue vivo em cada uma de nós e em nossas descendentes.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Parto Orgásmico em Caxias!


Será dia 6/6, segunda de lua nova, no centro de Cultura Ordovás de Caxias do Sul, às 19h. E o que sobrar da arrecadação será usado pra comprar materias didáticos pro Nascer Sorrindo Caxias. Viva o cine-debate dos temas importantes!

Maternagem Zen!

A convite dos amigos do coletivo ManifestaSol, levamos o tema da Maternagem Natural para Tenda da Lua - espaço da energia feminina - de um evento muito bacana que aconteceu pela primeira vez em Caxias, o ManifestaZen.  O evento reuniu terapeutas, estudiosos, focalizadores de grupos e curiosos de todos os tipos para buscar juntos uma mensagem essencial contida no próprio Zen:  a simples e misteriosa graça da vida! Para tanto, dançamos, brincamos, oramos, re-encontramos  amigos e corações e cantamos mantras tomando chá (festão!)
Foi uma delícia! A presença familiar da minha irmã fada Nati e das "comadres" do Nascer Sorrindo Caxias fez toda diferença. Mulheres (das que correm com os lobos!) e mesmo alguns meninos muito especiais criaram uma egrégora de sagrada leveza. Invocamos nossas ancestrais (aquelas das quais herdamos nossa herança!) e refletimos -rapida mas profundamente - sobre os ritos de conceber, gerar, parir e criar nossos filhos em conexão com Pachamama, ou seja, a mulher Sábia que vive em cada uma!


a Tenda da Lua do ManifestaZen

domingo, 8 de maio de 2011

Nosso grupo é notícia em Caxias

Escrevo desde o dia das Mães conectada com tantas mulheres maravilhosas que compõe meu clã para contar que na última semana o parto humanizado tornou-se notícia em Caxias do Sul - RS. O grupo Nascer Sorrindo - que ajudei a ´"parir" e já caminha sobre as próprias pernas mostrou-se com muita verdade em uma matéria sensível e completa (como uma apresentação do tema) de Tríssia Ordovás Sartori para o jornal Pioneiro.Confira por aqui!



Nascer Sorrindo Caxias (ou algumas de suas participantes mais confirmadas:
Lígia, Nati, Rachel, eu e Paula com os pequenos Athos e Luna
fotografados por Maicon Damasceno para o jornal Pioneiro 
 Além da reportagem, a doula Rachel também foi requisitada para falar sobre o tema para o rádio e na TV UCS (com a Paula mãe da Luna), além de dar palestra em uma loja de gestantes. Nada mal para quem sentia que falar de "doula" era o mesmo que falar de "girimum"! Em todas as oportunidades a repercussão foi positiva, uma vez que contamos sobre o que acreditamos com nosso coração.

Nosso encontro NSC esta semana foi especial para celebrar a data festiva - uma boa desculpa pra se estar com a mãe e sentir-se acolhida em seu amor incondicional. levamos nossas próprias mãe pra contarem suas experiências: tanto as de pertencerem a ùltima geração dos nascidos em casa, da chegada de seus próprios filhos e das suas ecolhas. Por fim, desfrutar juntas o encantamento de terem se tornado avós (as crianaçs também estavam lá, que delícia para o orgulho geral!).